sábado, 28 de setembro de 2013

O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde

Sinopse: O Retrato de Dorian Gray é o único romance do escritor irlandês Oscar Wilde, autor de inúmeras peças de teatro e histórias curtas. O romance, que conta a insólita história de um jovem londrino cuja beleza tornou-se sua própria miséria, provocou violentos debates e intensa polêmica ao ser publicado, em 1891, por retratar de maneira dramática a degradação do homem. Hoje, passadas as paixões da época, verifica-se que, pelo apuro estilístico, humor, fantasia e verve - nele se encontram alguns dos mais famosos e cintilantes paradoxos de Wilde —, o livro resistiu à ação do tempo. E que, superado o seu espírito aristocrático e até antipopular, a esse doloroso apólogo da degradação humana jamais faltaram emoção estética e grandeza dramática. Wilde dizia haver posto todo o seu gênio em sua vida, todo o seu talento em seus trabalhos. Deu à ribalta inglesa as melhores comédias desde Sheridan, todas cheias de excelentes situações, repletas de estilo singular, de graça suave. Brilhante classicista, foi ainda um prosador singular, com trabalhos marcados por certo exotismo, evidentemente influenciado pelas obras de Walter Pater, cujas teorias estéticas aceitou, dizendo cultuar a arte pela arte. Colecionava objetos de porcelana azul, penas de pavão, e defendia o uso de roupas "racionais" pelas mulheres - o que significava vestidos soltos e a ausência de espartilhos. Proclamava-se ainda socialista, embora se preocupasse mais com a liberdade artística do que com a igualdade social. 




A

vida de Dorian Gray poderia dar inveja a qualquer jovem de considerável beleza e fortuna. Afinal, no mundo das aparências, um rosto angelical, um sorriso encantador e olhos brilhantes nos leva a fazer julgamentos sobre o caráter alheio. Julgamos que alguém bem vestido, com boas maneiras e rosto jovial seja incapaz de cometer grandes atrocidades. Afirmamos pertencer àqueles desafortunados a vulgaridade da vida e dos atos hediondos. E, por outro lado, quantas vezes, ao longo da vida, nos deparamos com lobos em peles de cordeiro? O mundo está cheio delas. 

Com Dorian Gray não foi diferente. Dono de uma beleza invejável, o jovem Dorian, com apenas vinte anos, ainda conservava em si a ingenuidade adolescente e a vitalidade inocente. Por infortúnio um dia aceitou que lhe pintassem um retrato seu, e dessa forma seus problemas futuros tiveram início. 

Conforme avançamos na leitura, descobrimos que Dorian, ao contrário do que muitos supostamente pensaram, não teve uma vida fácil e amorosa. Sim, sempre fora rico e pertenceu a alta sociedade britânica do século XIX, entretanto, sua criação não teve a excelência do amor, do afeto e do cuidado, tão importantes para a formação de qualquer ser humano. A impressão que me deu foi que Gray já cresceu com indícios de seu caráter maculado, mas isso só se manifestaria mais tarde. 

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A Menina que Roubava Livros, Markus Zusak

Sinopse: Entre 1939 e 1943, Liesel Meminger encontrou a Morte três vezes. E saiu suficientemente viva das três ocasiões para que a própria, de tão impressionada, decidisse nos contar sua história, em "A Menina que Roubava Livros", livro há mais de um ano na lista dos mais vendidos do "The New York Times".

Desde o início da vida de Liesel na rua Himmel, numa área pobre de Molching, cidade desenxabida próxima a Munique, ela precisou achar formas de se convencer do sentido da sua existência. Horas depois de ver seu irmão morrer no colo da mãe, a menina foi largada para sempre aos cuidados de Hans e Rosa Hubermann, um pintor desempregado e uma dona de casa rabugenta. Ao entrar na nova casa, trazia escondido na mala um livro, "O Manual do Coveiro". Num momento de distração, o rapaz que enterrara seu irmão o deixara cair na neve. Foi o primeiro de vários livros que Liesel roubaria ao longo dos quatro anos seguintes.

E foram estes livros que nortearam a vida de Liesel naquele tempo, quando a Alemanha era transformada diariamente pela guerra, dando trabalho dobrado à Morte. O gosto de rouba-los deu à menina uma alcunha e uma ocupação; a sede de conhecimento deu-lhe um propósito. E as palavras que Liesel encontrou em suas páginas e destacou delas seriam mais tarde aplicadas ao contexto a sua própria vida, sempre com a assistência de Hans, acordeonista amador e amável, e Max Vanderburg, o judeu do porão, o amigo quase invisível de quem ela prometera jamais falar.

Há outros personagens fundamentais na história de Liesel, como Rudy Steiner, seu melhor amigo e o namorado que ela nunca teve, ou a mulher do prefeito, sua melhor amiga que ela demorou a perceber como tal. Mas só quem está ao seu lado sempre e testemunha a dor e a poesia da época em que Liesel Meminger teve sua vida salva diariamente pelas palavras, é a nossa narradora. Um dia todos irão conhece-la. Mas ter a sua história contada por ela é para poucos. Tem que valer a pena.

A

ssim como as palavras salvaram Liesel Meminger, elas também me salvaram. Não teve nada de épico, grandioso ou trágico como na bonita estória contada pela Dona Morte, mas mesmo assim os livros me salvaram. Alguns anos mais tarde eu entenderia. Por ora, tratemos apenas de Liesel, a ladra de livros. 

Na Alemanha nazista de 1939, uma menina magricela encontrou-se com a morte e com a primeira oportunidade de furtar um livro. A morte, na ocasião, levou consigo o irmão menor da menina. Ela não tinha pai, e a mãe levava os filhos para um lugar chamado Molching, onde os entregaria a um casal para criá-los. O menino se foi antes de chegar ao destino. Ficou pelo meio do caminho, assim como o primeiro livro que Liesel furtou. Como eu disse, foi um caso de oportunidade. "A oportunidade faz o ladrão", dizem. 

domingo, 15 de setembro de 2013

1984, George Orwell

SinopseWinston, herói de 1984, último romance de George Orwell, vive aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho. Ninguém escapa à vigilância do Grande Irmão, a mais famosa personificação literária de um poder cínico e cruel ao infinito, além de vazio de sentido histórico. De fato, a ideologia do Partido dominante em Oceânia não visa nada de coisa alguma para ninguém, no presente ou no futuro. O’Brien, hierarca do Partido, é quem explica a Winston que 'só nos interessa o poder em si. Nem riqueza, nem luxo, nem vida longa, nem felicidade - só o poder pelo poder, poder puro.'




S
e George Orwell tivesse tido a oportunidade de viver até as décadas de 1970, 80 e 90, teria visto momentos históricos, tais como a corrida espacial, a queda da União Soviética, o processo de mundialização do capital, a ascensão da economia capitalista chinesa, entre outros. Ele talvez aludisse ao Grande Irmão o nome de Mercado, este sempre onisciente, onipresente e onipotente.

Se George Orwell vivesse os tempos atuais, de certo refletiria que se o Mercado é o Grande Irmão, a mercadoria, objetiva e concreta, é o Partido. E se o ser humano é inútil ao Mercado, ou seja, não consegue adequar-se a ele, servi-lo de corpo, alma e coração; se não serve ao menos como mercadoria, esse ser humano não existe. “’Você não existe’, disse O’Brien” (p. 303).

Se George Orwell visse que no mundo de hoje o terrorismo é utilizado como subterfúgio para expandir o mercado em crise; se lesse jornais e revistas, entenderia que o estado de terror e medo é constantemente aflorado nas pessoas. O ódio ao diferente, à intolerância para com os mais fracos; a forte oposição aos levantes populares, manifestações seja contra uma ditadura política ou a ditadura do mercado que encarece o preço daquilo que é primário para a vida nas grandes cidades. Se ele estivesse vivo, veria homens fardados e com botinas pretas, portando cassetetes, máscaras e armas, combatendo o desequilíbrio social e protegendo o templo sagrado da propriedade privada. Veria homens a cavalo, de helicópteros e "caveirões" combatendo o tráfico de drogas, mas também desocupando de forma arbitrária e brutal a região do Pinheirinho-SP. Para manter a paz, a guerra seria a solução. Se a paz exige uma ditadura, a guerra instaurará a ditadura. Mas se exige democracia, a guerra abrirá os caminhos. A guerra consumirá o corpo, a mente e o coração. Guerra é Paz.